terça-feira, 13 de outubro de 2009

O COMPLEXO DE JONAS

MEDO DE REALIZAR O PRÓPRIO POTENCIAL
( o potencial não realizado)

A experiencia vivida no ventre do ”grande peixe”.
Jonas devia ter ido a Nínive, por ordem divina,para pregar o arrependimento aos cidadãos pervertidos. Fugindo do seu destino, ele toma o primeiro barco que parte, mas um furacão agita a embarcação que ameaça naufragar. Cheios de panico, os marinheiros tiram na sorte para ver quem dentre eles está causando essee infortúnio. É Jonas. Mas Jonas refugia-se no porão do navio, e, aí, mais longe ainda, no mais profundo sono.
Aparentemente longe da sua realização, Jonas é duramente trazido de volta a realidade do seu destino; pela mão dos marinheiros, é lançado ao coração do mar, ao coração do seu “não-realizado”.
Engolido pelo monstro marinho, Jonas parece não dever recuperar a luz. Mas no fundo das entranhas do grande peixe, lembra-se de Deus, invoca-o, e então, Deus fala ao grande peixe e este vomita Jonas. Revestido da força de suas profundezas, agora Jonas pode enfrentar Nínive e entrar na inteligencia e misericórdia divina . Ele faz a experiencia da transcendencia.
Portanto, no primeiro estágio, é voltando a ser germe, peixe, mergulhando até as raízes das montanhas, as raízes ontológicas, aos arquétipos da criação, que o homem atinge esse nível de consciencia cósmica que transcende nosso nível de consciencia comum. O germe no ventre materno, possui a memória cósmica. Ele sabe. O traumatismo respiratório do nascimento rechaçaria essa memória para as profundezas do inconsciente. Parece que aquele que volta a ser voluntária e conscientemente germe ( através de técnicas respiratórias),aquele que desposa a mãe, penetra as trevas do inconsciente, rompe o túmulo da memória e recupera o conhecimento ao chegar ao coração de si mesmo.
O nome hebraico de Jonas é Iona, é também o peixe macho, e a baleia desempenha tal qual a arca, o mesmo papel de peixe-femea detentora da energia informação.Todos esses peixes vivem em Malkuth, na terra e na água, e cujo coração possui o fogo do diamante, identificam-se com a divina mãe negra das profundezas; esta é Kali entre os hindus, Ísis entre os egípcios, Cibele entre os cretenses , Dana para os celtas, e Perséfone entre os gregos.
Voltar a ser germe; essa operação ocupa um lugar tão central em nossa evolução que todas as tradições irão descreve-la, testemunhando sua identificação com a experiencia “não-luz”.
É assim que nós a encontramos no livro tibetano dos mortos, e nas descidas aos infernos da obra de Dante. Enfim, a cegueira de muitos dos nossos heróis das lendas figura essa mesma descida as trevas. Aqui não se trata mais das trevas da ignorancia, pois o sujeito já fez a experiencia da luz, do bom, ele vive de grandes trevas, mas já está consciente da luz que carrega, mas a luz só brilhará quando os seus raios encontrarem a matéria que os receberá, a matéria que eles poderão penetrar. A matéria é a mãe negra das profundezas, isto é, os arquétipos inferiores nos quais Jonas havia sido precipitado. Compreendemos bem, agora, por que ninguem poderá voltar dos infernos sem antes captar a luz essencial de seu ser, depois de ter começado a “separar o subtil do espesso”. E para isso, ou seja para encontrar a saída, precisará de um guia, que no caso de Jonas foi a própria divindade (Deus).
No momento em que o homem, conquistado pelo amor divino, passa a ter a experiencia do divino, se tentar conceitualizá-la, ele a destrói. É perigoso, no seio dessa experiencia, querer levar para o nível das categorias de uma consciencia comum, querer fechar dentro dos quadros cconceituais aquilo que resulta de uma transcendencia.
Eneias ( o órfão de pai), dirige-se à Sibila (o guia) dizendo, “faze com que eu desça aos infernos e que, lá eu torne a ver o seu querido rosto.... Ensina-me o caminho do subterraneo que me permitirá reencontrar aquele que eu carregava sobre os meus ombros...” Quem é esse que Eneias carregava sobre os ombros, a não ser o seu verdadeiro rosto, o seu rosto divino que foi decapitado para colocar em seu lugar, como ocorre com todo homem cuja consciencia foi obstruida, uma máscara?
É engraçado como nesse mito ,Enéias pede a Sibila que o leve ás profundezas dos seus abismos, Deus deve ser procurado dentro de nós mesmos, nesse pólo inferior, cuja integração é a única que nos pode dar a chave do divino, e recuperar para nós, acima das espáduas, o verdadeiro chefe. É depois de ter encontrado o Pai, ou o seu verdadeiro rosto, que poderá retornar para a missão de que os deuses o encarregaram.
O que significa essa sublimação? Que integração ela deve assegurar? Que parte da Obra, ao abordar aos infernos, os nossos heróis irão realizar?
Meditemos, o homem que em si mesmo venceu o leão e, como Hércules, se vestiu com sua pele, dominou o caráter psíquico de seus impulsos e se vestiu com as primícias da veste de luz. Mas, ninguém poderá “acorrentar Satanás”, se não tiver expulsado a corte de seus demonios, aqueles que parasitam a criação. Encontramos esses demonios, sob o nome de “formas pensamento”, na experiencia do Bardo-Thodol,
...- “ó nobre filho, seja qual for o terror ou o medo que possa te assaltar no Bardo, não te esqueças destas palavras e, conservando o seu significado em teu coração, vai em frente: nela se encontra o segredo vital do conhecimento.
“Ai, quando a experiencia da realidade brilha sobre mim, rejeitado todo pensamento de medo, de terror e de receio das aparencias, possa eu reconhecer que toda aparição é uma reflexão de minha própria consciencia, possa eu reconhece-las como sendo a natureza das aparições do bardo.
“No momento importante de realizar um grande fim, possa eu não temer as turbas das divindades pacíficas e irritadas que são minhas próprias formas-pensamentos.
Ó nobre filho, se não reconheces tuas próprias formas-pensamento, apesar das meditações ou devoções feitas por ti no mundo humano, se não compreendeste o presente ensinamento, as aparencias fugazes te subjugarão, os sons te encherão de receios, os raios te causarão terror.
O sujeito faz então essa experiencia de todas as formas-pensamento, de nossos demonios; vivendo essa experiencia de trevas perde o seu “Eu”. Se adquiriu na experiencia de luz, que antecede essa, a estrutura necessária, as formas-pensamento morrem com o “Eu”, ou então o homem é presa de seus demonios, de suas formas-pensamento, e se torna um “demonio”.
O homem deve ser alimentado por Deus para que se torne Deus.
Baseado no livro “O Simbolismo do Corpo Humano” – Annick de Souzenelle

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