sexta-feira, 5 de março de 2010

COMPLEXO DE JONAS
O SIMBOLISMO DO CORPO E A AUTO-REALIZAÇÃO

Ainda, referindo Annick Souzenelle, no livro “Simbolismo do Corpo Humano”, a maior parte das nossas doenças do fígado ou da vesícula biliar, vem certamente de uma recusa de aí “ver claro”, recusa de discernimento, recusa de retidão que não diz respeito mais a virtude moral, mas, à busca do caminho, da auto-realização, e que exige do ser aquilo que esotericamente chamamos de o “batismo de fogo”.
Essa recusa acarreta um bloqueio às tomadas de decisões justas, e então as situações ficam pesadas.
Parece que o baço é o órgão da terra, o pancreas é o das energias que aí são depositadas à espera da realização, e a vesícula biliar é o órgão oficina, é a sede do discernimento, e segundo os chineses, a vesícula faz par com o útero, e enquanto o útero no nível do triangulo inferior é o invólucro da água, a vesícula, no nível do triangulo da forja (abdómen), é o invólucro de fogo. Ela contém o fogo divino. Ela é o lugar do “batismo de fogo”. Ela tem a função de árbitro, decide e julga.
O pancreas, cujo nome vem da raiz grega, e significa, “toda carne”, parece estar ligado ao feminino, à Binah, na Cabala, que representa a “mãe divina”, na coluna do Rigor ou da Força.
É portanto, o último casamento do homem consigo mesmo na sua realeza adquirida, cujo último fruto é o Nome.
A carne selada na profundeza é a terra com a qual Adão deve realizar a última aliança, cujo fruto é o Shem. A carne é o lugar da realização total, o lugar da união mais íntima com Deus.
A carne “derrubada”, torna-se a vida psíquica, erótica e passional do homem, a fonte de todos os males, mas carrega em si também a fonte de todas as curas, o poder de reconversão para a realização do homem.
Eis que “toda carne” está mobilizada por Deus para entrar na sua realização. Nesse grande corpo cósmico, que é o Adão, tudo o que tem vida é posto à prova. O pancreas Adamico é mobilizado para que suas energias se cumpram. Em todos nós, toda prova atinge o pancreas para que ele libere uma soma de energias necessárias para a auto-realização proposta. Essa será a nossa qualidade erótica, associada ao amor, que gerará a realização, ou determinará o seu contrário, a doença. O pancreas secreta o suco indispensável à digestão, isto é, ao trabalho da “forja”. Fabrica a insulina, agente fundamental do metabolismo dos açúcares, e são esses açúcares que parecem simbolizar as energias, passando do não realizado no pancreas para o realizado no fígado, cuja função glicogenica concretiza a vocação mais subtil.
O pancreas é inseparável do baço, que simboliza o inconsciente, isto é, símbolo de toda “carne” não realizada.
No judaísmo cristão, “toda a carne”, ou a totalidade das energias é simbolizada pela serpente-sabedoria, que Cristo identifica com a Árvore da Cruz, a Árvore da Dualidade, tornando-se pela sua morte-ressurreição, na Árvore da Vida. Portanto, esses dois órgãos, baço e pancreas, são os das profundezas da terra.
O baço, splen em grego, designa um estado muito depressivo, a hipocondria dos antigos.
Em hebraico, “retet”, designa terror, é também um dos nomes do pancreas. Não há dúvida de que esses dois órgãos indissociáveis estão ligados à descida necessária aos infernos, que encobrem a aterradora energia do Nome. Todo ser que faz a experiencia da descida às profundezas (descida de Job), e que não tem a inteligencia-sabedoria daquilo que lhe acontece, encontra-se num estado que pode ir até o terror, e mesmo até á morte.
O uso de certas técnicas corporais, ou o uso de drogas, são diabólicas no sentido que elas separam em vez de reunificar o ser. Levam-no até o seu núcleo antes que ele tenha sido atingido.
O baço está ligado ao ontológico pelo mistério do sangue. É o cemitério dos glóbulos vermelhos, verdadeiro jazigo de ferro que conduz esse metal à sua purificação, e à sua transmutação em prata, a nova inteligencia do “eu” transmutado. O papel dos glóbulos brancos, que ele também produz, contribui para essa transformação. Enfim, a fabricação da bílis a partir dos detritos sanguíneos entram no pacto do “eu” novo e da sua nova visão.
O baço, sede da transmutação do “eu”, também regula, ele retém nas suas malhas os glóbulos vermelhos, que são em número demasiado grande no organismo, para redistribuí-los no tempo adequado. A “pontada”, não será uma inchação do “eu”? A expressão francesa, correr como um doido (sem baço), exprime bem esse “fora de medida”, e mesmo a perambulação de um ser que não tem mais como referencia, a terra.
O baço, ligado ao ontológico pelo mistério do sangue, e como cemitério dos glóbulos vermelhos, complementa a medula óssea, que, como vimos, é o berço dos glóbulos vermelhos. A medula, “sutiliza” o nome de Adão, para que o “eu” jogue o jogo que lhe é próprio. Pode-se pensar que o baço que, por sua vez, obriga o “eu” a uma morte, contribui para a reconquista do novo. Ele é órgão terra, e obriga a um retorno á terra, a terras novas e sempre mais profundas. Obriga a rompimentos dolorosos. Os chineses dizem que ele é o trovão, o sismo, ou ainda o gongo”, o que reúne os címbalos hebraicos, tsiltsalim, a “sombra”.
O gongo, ressoa nas profundezas da sombra, isto é, participa da mesma qualidade vibratória energética da terra-mãe que contém o Nome.
O baço está em relação íntima com o centro do homem, em que o “eu” se torna o “Yod”. Ele transforma o “eu” nas suas mutações para o Yod, e transporta ao fígado as suas energias realizadas.
O fígado revela-se, pois, como o lugar privilegiado da “preparação nupcial”, a do homem tornando-se Deus no seu encontro com Elohim.
O fígado é o lugar do retorno glorioso do “esposo”, é a Glória.

Um comentário:

purpuralegria disse...

Simplesmente amei e a leitura chegou para mim num momento crucial. Agradeço imenso.

Márcia