terça-feira, 25 de dezembro de 2007

MISTÉRIOS CRISTÃOS

Um século e meio antes do cristianismo, o Império Romano de Augusto abraçou muitas línguas e muitas culturas. Era um mundo complicado em que as preocupações, crenças e práticas religiosas ocupavam o lugar central na vida das pessoas, das famílias e das comunidades.
A Palestina era um país de muitas nações, de muitas línguas e de muitos interesses.
Na Cidade Santa, havia muitas seitas dentro do tronco principal do Judaísmo, entre elas a que deu origem ao Cristianismo. As correntes religiosas da época eram diversas, podendo distinguir-se três amplas categorias de crença e de observância religiosa:
1- Havia a religião tradicional da família e dos deuses comunitários;
2- Havia os assim chamados “ cultos dos mistérios”, que tinham as suas raízes míticas em ritos locais de fertilidade;
3- Havia quem vivesse em busca da realização humana e da felicidade por meio do estudo e da prática da sabedoria filosófica;

As religiões que celebravam a natureza estavam espalhadas por todo o Mediterrâneo, e as mais populares eram os cultos da Grande Mãe, ou de Ísis, no Egipto, e o de Mithra na Pérsia.
No Judaísmo havia duas seitas principais que professavam ideias contrárias e alimentavam rancores recíprocos:
1. A dos fariseus: sacerdotes, escribas e leigos, que acreditavam e seguiam a Lei de Moisés. Eles colocavam a religião tradicional acima da política, sentindo que podiam viver com qualquer governo que não restringisse a liberdade religiosa. Eles aceitavam a Doutrina da Cooperação de Deus nos actos humanos, o livre arbítrio e a responsabilidade moral, e principalmente, que o Messias restauraria a dinastia divina e livraria os judeus do domínio do estrangeiro.
2. A dos saduceus: nobreza, ricos e hierarquia mais alta dos sacerdotes, não acreditavam na lei do retorno ou na ressurreição e sustentavam a crença de que havia um lugar na Terra para onde iam os mortos, sem julgamento. Negavam a existência de espíritos e anjos, e não acreditavam na Providencia ou na Orientação Divina, e nem que Deus pudesse atender ás suas preces. Defendiam o livre arbítrio.
Havia ainda os essénios, que tinham uma vida disciplinada, e demonstravam mais afeição uns pelos outros. Rejeitavam os prazeres, que consideravam perniciosos, e acreditavam que a não submissão às paixões era uma virtude. Com frequência rejeitavam o matrimónio, mas muitas vezes acolhiam os filhos dos outros enquanto estivessem em tenra idade e pudessem ser educados conforme os costumes essénios. Quando havia matrimónio, era entre duas pessoas que fossem compatíveis em todos os níveis de desenvolvimento, e a aliança era supervisionada pelos Altos Iniciados e pelos adeptos da seita essénia. Eram estudiosos de astrologia, numerologia, frenologia e do retorno dos indivíduos, as encarnações. Tratava-se de uma seita estabelecida para preparar o caminho para educar e treinar o Messias.
Os essénios eram os últimos remanescentes da Fraternidade dos Profetas, organizada por Samuel. Os essénios tinham dois centros importantes, um no Egipto perto do Lago Moeris, e outro na Palestina, perto do Mar Morto.
Os essénios dividiam-se em dois grupos:
1- Os Chefes de Família, que se casavam e moravam em casas nas vilas e cidades, como pessoas comuns, preparando-se por meio de estrita disciplina espiritual para a santidade da paternidade, com o objectivo de atrair egos evoluídos do mundo celeste, que desenvolveriam o trabalho da Ordem e de toda a humanidade.

2- O grupo mais esotérico, que compreendia os Iniciados e que faziam votos de perpétua virgindade, e se mantinham imaculados no mundo, vivendo habitualmente em comunidades monásticas isoladas, onde podiam devotar a sua vida às coisas do espírito.
Maria e José pertenciam à mais elevada ordem iniciática; daí o seu sacrifício em sair para o mundo e filiar-se ao grau menor dos Pais de Família ter sido muito maior.
Era comum que uma mulher iniciada nas muitas tradições dos mistérios fizesse um apelo a uma alma mais elevada para recebe-la no útero e, dessa forma, dar à luz um profeta, um mestre ou um ser semidivino. A alma escolhida para uma missão divina, vem do mundo divino livre e conscientemente, e para poder entrar na vida terrena, ela precisa de um veículo especial. Este é o chamado da mãe de elite, ela mesma uma iniciada, alguém que, pela capacidade moral e espiritual, pela pureza da alma e da vida, pelo elevado desenvolvimento dos seus sentidos, atrairia em seu sangue e carne a alma de um redentor ou profeta.
Jesus teria vindo de uma longa história de profetas judeus, pessoas que haviam sido dedicadas ao seu Deus pelos seus pais. As pessoas dessa linhagem com frequência eram citadas como “Emanuel”, o que significa “Deus no meio de nós”.
O espírito do Cristo Arcangélico é uma força tão grande que não poderia encarnar no útero de uma mulher ou no corpo de uma criança. Um corpo adulto seria necessário, um corpo vigoroso e treinado para conter e abrigar toda a força de um Arcanjo Solar. Uma alma altamente evoluída na qual seria estabelecida a harmonia perfeita nos níveis físico, etérico, astral, mental e espiritual. Quando se conseguisse esse preparo, então o Cristo Cósmico ou Arcangélico poderia encarnar e usar um veículo físico.
Entretanto, independentemente do grau de iniciação alcançado pela alma em outras vidas e do facto de ela ter sido um antigo mestre, a alma ainda teria de reconquistar o Eu Superior e expandi-lo por um esforço renovado. Todas as almas estão ligadas por certas leis universais e a reencarnação obscurece a consciência, exigindo que ela seja reacesa e expandida. Cada alma, cada profeta tem de ser iniciado. O Eu Superior tem de ser despertado e tornado consciente da sua força. Deve existir uma harmonização do corpo físico, etérico, e astral com o espiritual. O desenvolvimento tem que ser feito interiormente, e essa seria a tarefa daquele que conhecemos como Jesus, nos anos que antecederam ao “Baptismo”.


A RESSURREIÇÃO DOS MISTÉRIOS FEMININOS

Parte da função dos verdadeiros Mistérios Cristãos era resgatar o Feminino Divino. O equilíbrio entre o masculino e o feminino em cada pessoa. Só atingindo esse equilíbrio é que a criança divina interior pode nascer.
Nas escolas de mistério havia muitos mitos sobre as Mães Divinas do Mundo: Ísis, Tiamat, Gaia....
Intuição e Imaginação são dois princípios vitais do Feminino. Elas, por sua vez, dão luz a fertilidade, e a divindade. O Feminino simboliza a alma desperta e iluminada, o único tipo de alma no qual o divino em nós pode nascer. O aspecto Amor-Sabedoria enfatizado nos ensinamentos do Cristo Jesus é o Princípio Feminino em que se manifesta a verdadeira iluminação e em que o Reino do Céu é alcançado. O Amor é o principal aspecto do Feminino.
Há muitos símbolos e imagens referentes ao Feminino: o vaso, a noiva, a Lua, planetas, cavernas, vulcões, rios, lagos, leoas, serpentes, vacas éguas, baleias, corvos, garças, pombas, figueiras, milho, malmequeres....
Nas escrituras, há parábolas e ensinamentos em que aparecem as mesmas imagens e símbolos, demonstrando que o Cristo estava ensinando algum aspecto do Feminino.
Em alguns relatos sobre o nascimento de Jesus, a Sagrada Família está numa gruta, e não no estábulo. A parábola da noiva. A festa de bodas em Caná.
É a Sabedoria Materna que nos ajuda a recuperar a criança, e o Cristo falou muitas vezes das crianças.
Analisaremos os principais eventos da vida de Cristo Jesus como uma alegoria para as Sete Iniciações Femininas, também examinaremos o significado das principais personagens femininas nas escrituras, em particular, a mais alta iniciada da época, MARIA, a Mãe de Jesus.

OS SETE MISTÉRIOS CRÍSTICOS FEMININOS

1- A ANUNCIAÇÃO
A Anunciação a Maria, de que ela daria à luz Jesus, feita pelo Arcanjo Gabriel, manifesta a visão glorificada e a iluminação que decorrem do equilíbrio entre o masculino e o feminino.

2- A IMACULADA CONCEIÇAÕ
O poder espiritual da nova visão é impresso no corpo.

3- O NASCIMENTO SAGRADO
Manifesta o nascimento da vontade criativa, o despertar de um novo poder.

4- A APRESENTAÇÃO NO TEMPLO
O aspirante dedica a sua vida ao espiritual.

5- FUGA PARA O EGITO
O período de introspecção, que ocorre no processo de desenvolvimento de todos os aspirantes devido à influência do mundo exterior.

6- OS ENSINAMENTOS NO TEMPLO
Demonstra uma consciência ampliada por meio da fusão do coração e da mente.

7- O BATISMO
A iniciação de abrir-se à visão plena, consciente e à total compreensão do discernimento, indicada pela tentação que ocorre a seguir.

A TENTAÇÃO
O papel feminino, que Cristo Jesus ensinou e demonstrou é poderoso, mas também subtil. O feminino tem de ser buscado e manifestado em cada um de nós. As mulheres das quais temos alguma informação muitas vezes demonstram muita força e muita coragem. As primeiras testemunhas da ressurreição são Maria Madalena, Maria, a mãe de Jesus, e Joana. O aspecto intuitivo, feminino tornou-as mais sensíveis ao poder oculto do evento. Isso fica ainda mais evidente quando os apóstolos se negam a acreditar na história que elas contam. O aspecto masculino não pode ver com tanta clareza.
JOANA, casada com um alto oficial da corte de Herodes abandona o marido para seguir um novo caminho. Deixa a antiga energia masculina para afirmar a sua própria.
SALOMÉ, a mulher de Zebedeu, apresenta os seus dois filhos ao Cristo Jesus para que sejam os seus discípulos
MARIA, mãe de Marcos, abriu a sua casa em Jerusalém para o Cristo Jesus e seus discípulos. Em sua casa seria realizada a Última Ceia. É um símbolo dinâmico da energia feminina actuando através do serviço ao próximo.
MARTA e MARIA de Betânia: uma é prática e reflecte uma expressão exterior do feminino, e a outra é idealista e símbolo do interior. Ambos são necessários e, portanto eles sempre são mostrados juntos. Viajaram juntas com José de Arimatéia, ajudando-o a levar o cálice do Graal para novos países.
VERONICA, que aparece quando o Cristo Jesus está carregando a cruz para o Gólgota e enxuga o rosto dele, deixando-o impresso no pano. Simboliza a energia etérica humana que tem de se tornar mais sensível para que a energia do Cristo se expresse. Só então a verdadeira visão é recuperada.
O feminino se expressa em três aspectos: virgem, mãe, e mulher sábia.
São três as mulheres que primeiro sabem da ressurreição (Ana, Maria, Isabel), representam os três degraus do desenvolvimento profético.
As escrituras nos falam sobre três mulheres que presenciaram a morte de Jesus, e não há menção de homens celebrando a força que provém das energias femininas da vida. Isso é evidenciado também na negação de Pedro. A expressão masculina de amor não foi suficiente para suportar as pressões do mundo exterior. O amor feminino interior é suficientemente forte.
É normal nos perguntarmos porque tantas mulheres nas escrituras têm o nome Maria. No nível mais esotérico, esse facto tem grande importância, pois nos chama a atenção para o significado dos Mistérios Femininos. Este nome tem dois significados predominantes: “myrrh” (mirra) ou, se remontarmos à sua origem, “ do mar”. O elemento água, o mar, para simbolizar o Divino Feminino. Toda a vida surge no mar. O Grande Oceano do Divino dá nascimento ao universal. Das águas da vida vem o novo ser.
O facto de depararmos com o nome Maria, varias vezes deveria incitar-nos o desejo de pesquisar essa questão mais a fundo. Pode ser um nome adoptado por um iniciado, e que reflecte as energias reverenciadas e honradas por aquela pessoa.
Ainda temos, no caminho para o Gólgota, quando Jesus fala com um grupo de mulheres em prantos, depois de cair pela segunda vez, o que simboliza o reconhecimento e a tristeza pela degradação do Feminino Divino, mas também indica que é preciso extrair força do Feminino, já que o caminho completo da iniciação está se abrindo.


OS MISTÉRIOS DA MÃE ABENÇOADA

Maria, a mais alta iniciada. Tanto Maria quanto José eram padrões típicos da expressão espiritual do feminino e do masculino por meio dos mistérios menores do caminho iniciático.
Maria passou por Grandes Iniciações, a saber:
1- A iniciação pela água: trabalho com as emoções. Se nossas águas emocionais estão controladas, elas reflectem abrindo a visão espiritual, o que na vida de Maria foi indicado pela Anunciação.
2- A iniciação pelo fogo: envolve o domínio dos aspectos do desejo da alma. O fogo pode ser criativo e destrutivo. Pode inspirar ou queimar. Essa iniciação requer que se aprenda a controlar as forças interiores do nosso fogo criativo, a Kundalini, para que a mais elevada expressão de luz possa se manifestar. Isso foi representado na vida de Maria por meio da Imaculada Conceição.
3- A iniciação pelo ar: envolve controle e iluminação consciente da mente. Trata-se da Cristificação da mente pela qual se transcende tempo e espaço. Ela desperta o “poder do Verbo”. Essa iniciação foi representada na vida de Maria pelo Pentecostes.
4- A iniciação da terra: envolve o processo de transmutação dos átomos físicos de energia através da energia espiritual. É o domínio sobre tudo o que é físico. Isso foi simbolizado na vida de Maria, pela Assunção.
Esse aspecto de Maria, como a Grande Iniciada, se configura por todo o “caminho da cruz”. Ela era a única capaz de caminhar ao lado de Jesus por todo o trajecto do Gólgota. Era a única capaz de trilhar esse caminho no seu nível mais elevado e verdadeiro.
Ainda temos a sua comunicação com a hierarquia angélica durante a sua vida.
Cristo move-se de um Logos Solar externo para um Logos Planetário interior. Maria move-se de um protótipo Feminino interior para a presente energia Divina exterior. Com o nascimento dos Mistérios de Cristo, começa o processo de troca de polaridade na expressão da energia.

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