OUTRAS VIDAS e OUTRAS
REALIDADES
Estou bem aqui... Estou
no meu corpo físico...
Uma performance, mas
também um templo finito, temporário e fugaz.
Mas também estou no
Cosmos, completamente expandido, diluído, em pura consciência.
Um invólucro mais sutil,
leve, expandindo à procura de outros “eus”, de outras identidades, de outras
experiências.
Me perco num tempo, me
absorvem imagens de vidas passadas.
Amplio um quadro,
aparece um deserto, estou observando as suas areias brancas. Grande solidão, no
centro da visão um cavalo caído esmagando um homem.
Um triste quadro de
alguém que deixou um corpo ali à mercê da decomposição, tendo por testemunha o
céu e o seu amigo de aventuras.
Amplio o olhar, a minha
alma livre das amarras do peso da matéria agora observa uma pequena jovem
vestida de azul, avental e touca brancas, e que, em meio a uma multidão,
caminha em direção à fogueira. Parece ser na França, período da Inquisição.
Entregue aos loucos,
aos desvairados, num grande circo de sombras, queimo na fogueira. “Que frio...”
“Que frio...”, era o que sentia enquanto queimava viva sob os olhares
aterrorizados, esganiçados de pessoas à espreita de emoções. Um show, criaturas
sombrias num circo para dementes.
Deixo aquele corpo, uma
consciência em forma de uma bola de luz logo acima da cabeça.
Noite escura da alma.
Tenebrosa, com homens à espreita de mais um show realizado em nome de Deus.
Blasfêmia!!!!
Acabou. E, mais uma
vez, retorno à casa verdadeira, numa dimensão de puro amor.
Porém, por necessidade,
ainda uma vez retorno à carne.
Parece Jerusalém, sou
uma jovem simples e ingênua, vestida com roupas de algodão cru, cabelos
trançados até à cintura.
Parece ser um grande
acontecimento, Pessoas correm pela rua estreita, alvoroçadas, perseguidas por
romanos, e lá estou eu também. Desespero, salve-se quem puder, acabaram de
crucificar o nosso Mestre. E agora? Sinto que uma lança me atingiu do lado
direito do corpo. Apaguei.
Um novo amanhecer no
planeta Terra. Vou agora desencarnar amarrado a uma cruz. Um jovem de cabelos
escuros caídos até aos ombros, cheio de ódio e amargurado. Soltei o corpo
físico cheio de ódio e gritando por vingança quando senti o meu ombro esquerdo
deslocando-se do resto do corpo, e uma vontade grande de urinar.
Foi assim que parti
novamente para a Pátria espiritual, e depois de um bom tempo volto a encarnar.
Parece que aquela agressividade me mandou para um país distante, a Rússia dos
czares, mas agora, no momento da Grande Guerra. Sou Yuri, muito jovem e
imaturo, estou na trincheira junto com um amigo, quando uma granada nos atingiu
em cheio. Tudo desaparece, não há mais nenhum referencial, explodidos como
balões, voamos pelos ares. Silêncio absoluto. Nada restou, além de um grande
vazio.
Muitas lágrimas na
recordação, uma percepção de como a vida nesse planeta se acaba num piscar de
olhos...
Decepção... sem lenço e
sem documento... lá vou eu de novo.
Quanta insistência...
Atualmente me encontro
resgatando algumas coisas, e tentando entender os mistérios da vida,
reformulando crenças limitantes, obsoletas, numa árdua jornada de
autoconhecimento à procura da minha verdade, pois diz o ditado, que só a
verdade nos libertará.
Então, quem sou, o que
sou, como faço parte deste mecanismo gigantesco que é o Cosmos, maior do que
alcança minha vã filosofia, tento ir além dos véus do esquecimento,
compreendendo que existe muito mais.
E como está escrito na
Grande Esfinge Egípcia, “Decifra-me ou te devoro”.
Vera Occhiucci Julho
2022