quinta-feira, 22 de março de 2012

VIVENCIA SOMÁTICA- A EXPERIENCIA ANIMAL- 3a.PARTE

3ª. PARTE - VIVENCIA SOMÁTICA


A EXPERIENCIA ANIMAL

     A escolha consciente não é uma opção para o réptil. Cada comportamento, cada movimento é instintivo. O cérebro reptiliano, controla a busca de comida, abrigo, companheira para procriação. Todas essas estratégias defensivas estão programadas no cérebro primitivo e é muito eficiente. A vida dominada pelo instinto é simples.
      O cérebro límbico existe nos animais superiores, e é o local primário dos comportamentos emocionais e sociais complexos que inexistem nos répteis. Esses comportamentos complementam e ampliam os impulsos instintivos do cérebro reptiliano.
     O cérebro límbico recebe impulsos do núcleo reptiliano, e elabora os dados.
     As emoções evoluíram com o cérebro límbico e prepararam o caminho para a evolução do cérebro racional. O instinto, a emoção e o intelecto funcionam juntos no humano saudável para criar a maior amplitude possível de escolhas, em qualquer situação.
     Existe um caminho para reassumirmos o controle do nosso corpo, que perdemos quando os efeitos posteriores ao trauma se tornaram cronicos. É possível estimular deliberadamente o sistema nervoso, para que este seja ativado e então descarregar suavemente a ativação. Estes mecanismos se originam no sistema nervoso e voce os experiencia no seu corpo, com o envolvimento total do sistema nervoso acessado pela sensopercepção.
     O estado ativado que não termina, a sensação contínua de perigo, a busca incessante desse perigo, a incapacidade de encontrá-lo, a dissociação, o sentimento de impotencia, juntos, formam a ansiedade traumática ( uma sensação de morte iminente intensificada pelos sentimentos de raiva, terror, pânico e impotencia). Essa ansiedade funciona como pano de fundo de qualquer experiencia na vida das pessoas traumatizadas. Aparece como nervosismo, preocupação, inqquietação e hipersensibilidade aparente. Experiencia de panico, terror, tem reações exageradas e dramáticas. Esses distúrbios não são características permanentes da personalidade, mas indicadores de um sistema nervoso temporário, mas perpetuamente sobrecarregado.
     Qualquer sistema físico capaz de conter a ativação não descarregada provocada pelo trauma, torna-se presa fácil. A energia presa irá usar qualquer aspecto de nossa fisiologia que esteja disponível.
     O trauma pode fazer com que uma pessoa fique cega, muda ou surda; pode causar paralisia nas pernas, nos braços; pode provocar dores cronicas e síndrome da fadiga cronica.
     Muitas pessoas traumatizadas vivem num estado de resignação diante dos seus sintomas, sem nunca tentar encontrar um caminho de volta a uma vida normal. A negação e a amnésia têm um papel importante, pois reforça esse estado resignado.

MATRIZ PARA REPETIÇÃO

À medida que os sintomas do trauma tornam-se mais complexos, eles começam a envolver em sua teia, todos os aspectos da vida da pessoa. Quando os desenvolvimentos desses sintomas chegarem à última volta de sua espiral descendente, eles estarão afetando e dirigindo os aspectos mentais de nossa experiencia, inconscientemente.
     De um modo insidioso, o trauma contribui para os motivos e impulsos do nosso comportamento. Por exemplo, alguém que já foi espancado quando criança, sentirá o ímpeto para espancar quando for adulto. Esse fenomeno é chamado de re-atuação. É compulsivo e destrutivo.
     O ímpeto de resolver o trauma por meio da re-atuação, pode ser físico e compulsivo. Somos inexplicavelmente atraídos para as situações que repetem o trauma original, de formas óbvias e não óbvias.
      As re-atuações podem ocorrer nos relacionamentos íntimos, em situações de trabalho, em acidentes ou infortúnios que se repetem. Acidentes repetidos são ilustrações comuns de re-atuação. Em outros casos, a pessoa pode continuar a se machucar. Tornozelos torcidos, joelhos deslocados, etc. A pista para identificá-los como sintomas de trauma, está na frequencia com que eles se repetem.
     Na verdade, alguma coisa está em sua raiz, alguma coisa da qual a pessoa não tem consciencia.
     A re-atuação traz algum alívio ao organismo. Há uma saída da energia represada gerada pelo ciclo de ativação contínua. São liberadas no corpo a adrenalina e as endorfinas.
     A re-atuação representa a tentativa do organismo de completar o ciclo natural de ativação e desativação que acompanha a resposta do reptiliano à ameaça de vida, no mundo selvagem.

ABORDAGENS XAMÂNICAS

     O Xamã, ou o curador tribal, tem sido responsável por restituir o equilíbrio e a saúde dos indivíduos, e das comunidades.
     Eles vêem a doença e o trauma como um problema para toda a comunidade, e não somente para o indivíduo que está manifestando tais sintomas.
    Os métodos utilizados por eles são diversificados e complexos. De acordo com a crença, quando a pessoa está sobrecarregada, a sua alma pode separar-se de seus corpos.
     Mircéa Eliade, diz- a “violação da alma”, é de longe a maior e a pior causa das doenças citadas pelos curadores xamanicos. Sem partes importantes de sua alma, as pessoas ficam perdidas em estados de suspensão espiritual. A doença é o resultado de estar encalhado num “limbo espiritual”.
     Embora as cerimonias ou rituais variem, o beneficiário da cura, quase sempre chacoalha e treme no momento em que o evento se aproxima do fim. Eles liberam as energias represadas.
     As pessoas com frequencia sentem-se desencaixadas do seu corpo durante meses depois de uma cirurgia que tenha usado anestesia geral.
     Na medicina xamanica, os tratamentos tentam capturar a alma, ou obrigá-la a reassumir o seu lugar no corpo, pois a doença é atribuída ao fato de a alma ter sido roubada, desviada ou, de algum modo deslocada.
     O xamanismo reconhece que a profunda interconexão, o apoio e a coesão social são requisitos necessários na cura do trauma. Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade pela cura de nossos ferimentos traumáticos, por nós mesmos, por nossa família e pela sociedade como um todo.
     Os médicos de saúde mental, não falam em recuperar a alma, mas falam em devolver a totalidade a um organismo que foi fragmentado pelo trauma.
     Os conceitos e procedimentos xamanicos tratam o trauma unindo a alma perdida e o corpo, na presença da comunidade.
     Na vivencia somática, voce inicia a sua própria cura ao reintegrar partes perdidas ou fragmentadas do seu eu essencial. É preciso um desejo intenso de tornar-se inteiro de novo. A cura irá acontecer à medida que os elementos de sua experiencia que estavam congelados, sob a forma de sintomas, forem liberados de suas funções relativas ao trauma sofrido, permitindo que voce descongele gradualmente.
     A maioria das culturas sofre da opinião dominante de que força significa capacidade de aguentar, que é de algum modo heróico. Aceitamos sem questionar, esse costume social.
     Usando o poder do neocórtex, nossa habilidade de racionalizar, é possível dar a impressão de que atravessamos um acontecimento bastante ameaçador (guerra, perda de um ente querido), sem nenhum arranhão. Cerramos os dentes e conseguimos a admiração dos demais. Esses costumes, cometem grande injustiça ao nos encorajar a sermos super-humanos. Enquanto isso, os efeitos traumáticos ficam cada vez mais graves, firmemente enraizados e cronicos. As respostas incompletas, congeladas no sistema nervoso, são como bombas relógio indestrutíveis, programadas para explodir quando evocadas pela força. (explosões inexplicadas)
     A desconexão entre corpo e alma é um dos efeitos mais importantes do trauma. A perda da sensação da pele é uma manifestação física comum do entorpecimento, e da desconexão que as pessoas vivenciam durante e depois do trauma.

A MEDUSA- O REFLEXO DO TRAUMA

     Precisamos deslizar com suavidade para dentro do trauma, e depois nos retirar gradualmente.
     No mito da Medusa, qualquer pessoa que olhasse diretamente nos olhos dela, seria imediatamente transformada em pedra.
     Antes de Perseu partir para conquistar a Medusa, foi avisado por Atena para não olhar diretamente para a górgone. Prestando atenção à sabedoria da deusa, ele usou o seu escudo para refletir a imagem da Medusa; agindo assim, conseguiu cortar a cabeça dela.
     Do mesmo modo, a solução para vencer o trauma não vem da confrontação direta, mas do trabalho com o seu reflexo, espelhado em nossas respostas instintivas.
     As sensações corporais podem servir como guia para refletir onde estamos experienciando o trauma, e para nos levar a nossos recursos instintivos. Uma vez que tenhamos aprendido a acessá-los, podemos criar os nossos próprios escudos, para refletir e curar o nosso trauma.
     É interessante o fato de que quando a Medusa foi decapitada, duas coisas emergiram do seu corpo: Pégaso, o cavalo alado e, Chrysaor, o guerreiro com uma espada dourada.

1- a espada, simboliza a verdade absoluta, a arma de defesa definitiva do herói mítico. Ela transmite um senso de clareza e triunfo, de emergir para ir ao encontro de desafios extraordinários, e da capacidade definitiva.

2- o cavalo, simboliza o alicerce instintivo, enquanto as asas criam uma imagem de movimento, planar e elevar-se acima de uma existencia presa à terra. Como o cavalo representa o instinto e o corpo, o cavalo alado e a espada dourada são símbolos auspiciosos para os recursos que as pessoas traumatizadas descobrem no processo de subjugar as suas Medusas.
     Ao iniciarmos o processo de cura, usamos a “sensopercepção”, ou sensações corporais internas. Elas funcionam como um portal pelo qual encontramos os sintomas, ou reflexos do trauma.
     Ao dirigir a atenção para essas sensações corporais internas, ao invés de atacar cara a cara, podemos soltar e liberar as energias que foram represadas.
     Do mesmo modo que Perseu usou um escudo para confrontar a Medusa, as pessoas traumatizadas usam o escudo sensorial, ou a sensopercepção para dominar o trauma.
     Parte da dinamica do trauma, é que ele nos separa de nossa experiencia interna, como um modo de proteger o nosso organismo das sensações e emoções que poderiam ser excessivos.
     A maior parte das pessoas acha que as emoções são um assunto de pesquisa muito mais interessante do que as sensações. Contudo, se quer aprender a usar a sensopercepção para resolver o trauma, precisa aprender a reconhecer as manifestações fisiológicas que são subjacentes a suas reações emocionais. As sensações vêm dos sintomas, e os sintomas vêm da energia comprimida. Temos é que trabalhar com essa energia.
     Uma sensopercepção não é uma experiencia mental, mas física. Uma percepção corporal consciente de uma situação ou pessoa, ou acontecimento.
     Todos os traumas trazem uma oportunidade para a transformação autentica. Ele amplifica e evoca a expansão e a contração da psique, do corpo e da alma. É o modo como respondemos a um fato traumático que determina se o trauma será uma Medusa cruel e primitiva que nos trnsformará em pedra, ou será um mestre que nos levará por caminhos vastos e não mapeados.
     No mito grego, o sangue do corpo decapitado da Medusa, foi recolhido em dois frascos; um frasco tinha o poder de matar, enquanto que o outro, o poder de ressscitar. Se deixarmos, o trauma tem o poder de tirar a vitalidade de nossa vida e destruí-la. Mas, também podemos usá-lo para auto-renovação e transformação.

Meditemos...

segunda-feira, 19 de março de 2012

VIVENCIA SOMÁTICA-O TRAUMA

VIVENCIA SOMÁTICA


CURANDO O TRAUMA – 1ª. parte

“ Se você expressar o que está dentro de você

Então o que está dentro de você será a sua salvação.

Se você não expressar o que está dentro de você

Então o que está dentro de você irá destruí-lo.”



“ Não importa onde estejamos, a sombra que trota atrás de nós tem certamente quatro patas”. Clarissa Pinkola

As nossas chances de sobrevivência aumentaram a partir do momento que nos juntamos em grupos maiores, contudo, a memória genética de ter sido presa fácil se manteve em nosso cérebro e sistema nervoso.

O cérebro humano frequentemente duvida da nossa habilidade de agir de modo que preserve a vida. Essa incerteza nos tornou vulneráveis aos efeitos do trauma. Quando nos confrontamos com uma situação de ameaça à vida, o nosso cérebro racional tende a ficar confuso e dominar os nossos impulsos instintivos. Essa dominância pode ocorrer por uma boa razão, mas a confusão que a acompanha cria o cenário para o que chamamos de “Complexo de Medusa”, ou o drama chamado trauma.

0 que pode resultar do confronto com a morte, pode nos transformar em pedra, como aconteceu no mito grego da Medusa. Podemos literalmente congelar de medo, o que irá resultar na criação de sintomas traumáticos.

O trauma tornou-se tão comum, que a maioria das pessoas nem mesmo reconhecem a sua presença. Esses sintomas podem permanecer ocultos por anos e anos.

Os sintomas traumáticos não são causados pelo acontecimento desencadeador em si mesmo. Eles vêm dos resíduos congelado de energia que não foi resolvido e descarregado, e que permanece preso no sistema nervoso, e que pode causar danos ao corpo e espírito.

A diferença entre a corrida interna do sistema nervoso e a imobilidade externa do corpo cria uma poderosa turbulência, semelhante a um tornado, dentro do corpo. Esse tornado de energia é o ponto focal, a partir do qual se formam os sintomas de estresse traumático. A energia residual não vai simplesmente embora, ela persiste no corpo, e com freqüência, força a formação de uma grande variedade de sintomas.

Esses sintomas são o modo como o organismo encurrala a energia residual não descarregada. Os animais selvagens descarregam instintivamente toda essa energia comprimida, e raramente desenvolvem sintomas adversos. Nós humanos não somos tão competentes, tornamo-nos vítimas do trauma quando somos incapazes de liberar essas forças poderosas. Podemos ficar presos a essas energias por nossas tentativas frequentemente mal sucedidas de descarregá-las, e sem saber podemos criar repetidamente situações nas quais exista a possibilidade de nos libertar da armadilha do trauma, mas nas quais a maioria de nós falha por não ter os recursos e ferramentas adequadas , é como uma mariposa que se sente atraída para uma chama. Muitos de nós ficamos crivados de medo e ansiedade, não nos sentimos à vontade conosco e nem com o nosso mundo.

A cura do trauma depende do reconhecimento dos sintomas, os quais são difíceis de reconhecer, pois são geralmente resultados de respostas primitivas. Precisamos da experiencia de sua sensação (sensopercepção). Podemos aprender a identificar uma experiencia traumatica ao explorar as nossas reações. Crianças traumatizadas podem apresentar graves distúrbios em seu funcionamento psicológico, medico e social. Elas experienciam pesadelos recorrentes, tendencias violentas e diminuição da capacidade de se relacionar normalmente com pessoas e ambiente.

Em casos extremos de perigo as pessoas ficam em estado de choque , congeladas e apáticas, incapazes de se mover . Essa passividade é similar ao comportamento observado pelas equipes militares especializadas em libertar reféns; é conhecido como “síndrome de Estocolmo”. Com frequencia os reféns não se mexem, a menos que recebam ordens repetidas para faze-lo.

Algumas crianças ficam tão aterrorizadas que o seu medo continua a sobrecarregá-las e imobilizá-las muito depois do perigo real ter acabado. Elas são incapazes de superar a ansiedade de sua experiencia. Permanecem sobrecarregadas pelo acontecimento, derrotadas e aterrorizadas. Elas são incapazes de se envolver novamente com a vida, pois estão virtualmente aprisionadas por seu medo.

Não importa quão assustador possa parecer um acontecimento,nem todos que o experienciam serão traumatizados.

PERGUNTAS

Porque algumas pessoas enfrentam com sucesso esses desafios, enquanto que outras, que não parecem ser menos inteligentes ou capazes ficam completamente debilitadas?

Quais são as implicações em relação àqueles de nós que já estão debilitados por traumas anteriores?

Em alguns casos, a pessoa fica sobrecarregada, e como resultado disso fica fisiológicamente atolada na resposta de imobilidade. O corpo literalmente fica resignando-se a permanecer em um estado no qual o ato de fugir não pode existir, e junto com essa resignação ocorre a perda generalizada do eu real e vital, bem como a perda de uma personalidade segura e espontanea.

A maioria das presas animais, usa a imobilidade quando é atacada por um grande predador, do qual não consegue escapar.

Não é a catarse emocional e nem o reviver da situação dramática, o catalisador na recuperação da pessoa, mas sim a descarga da energia que ela experiencia quando sai da resposta de imobilidade passiva e congelada para uma fuga ativa e bem sucedida.

OS RECURSOS PARA A CURA

Os recursos que fazem com que uma pessoa possa ser bem sucedida diante de uma ameaça podem ser usados para a cura. É desnecessário escavar velhas memórias e reviver a sua dor emocional para curar o trauma. Na verdade, a dor emocional severa pode ser re-traumatizante. O que precisamos fazer para nos libertar dos sintomas e medos é evocar os nossos recursos fisiológicos profundos e utilizá-los conscientemente.

Se permanecermos ignorantes do nosso poder para mudar o curso de nossas respostas instintivas, para um modo pró-ativo em vez de reativo, continuaremos aprisionados e sofrendo.

Num trabalho de cura com uma paciente que retirou as amigdalas, utilizando a visualização, o movimento das pernas possibilitou uma resposta à ameaça de um tigre imaginário que fez com que a energia presa fosse liberada pelo sistema nervoso. Havia ali um excesso de energia que tinha sido mobilizada pelo sistema para poder lidar com a ameaça que experimentou quando da retirada das amigdalas. No exercício ela foi capaz de despertar a capacidade de heroismo e fugir ativamente.

A lição é de que somos capazes de curar nossos traumas. Quando não somos capazes de fluir pelo trauma e completar as respostas instintivas, essas ações incompletas erodem nossas vidas. O trauma não resolvido pode nos tornar excessivamente cautelosos e inibidos, ou fazer-nos entrar em círculos cada vez mais apertados de re-atuação perigosa, vitimização e exposição temerária ao perigo. Tornamos-nos as vítimas perpétuas, ou os eternos clientes de terapia.

O trauma pode destruir a qualidade de nossos relacionamentos, e distorcer as experiencias sexuais. Comportamentos sexuais compulsivos, perversos, promíscuos e inibidos, são sintomas comuns do trauma.

Até que entendamos que os sintomas traumáticos são fisiológicos e psicológicos, seremos infelizes em nossas tentativas de curá-los. A questão é ser capaz de reconhecer que o trauma representa os instintos animais que foram distorcidos.

O abuso sexual é uma das muitas formas de trauma. As raízes do trauma estão em nossa fisiologia instintiva. Como resultado, e por intermédio de nosso corpo, e de nossa mente, descobrimos a chave para a cura.

A cura é um processo natural que pode ser acessado pela consciencia interna do corpo. Ela requer anos de terapia, ou que as lembranças sejam reiteradamente evocadas e expurgadas do inconsciente. Os sintomas pós-traumáticos são, fundamentalmente respostas fisiológicas incompletas suspensas no medo. Essas reações de ameaças à sobrevivencia, continuam pela vida como sintomas até que se completem. Os sintomas não irão embora até que as respostas sejam descarregadas e completadas. Os humanos sofrem quando são incapazes de descarregar a energia que está trancada internamente pela resposta de congelamento, embora raramente morramos. Um animal acidentado, pode passar pelo processo de tremer, e depois reorientar-se sem interrupções, pode passar pela fase de imobilização e sair dela, sem trauma. Mas, se o processo de descarga, o tremor, for perturbado, o estado de choque demora mais, e como resultado o animal pode morrer de medo, sobrecarregado por sua própria impotencia.

Quando pessoas e animais são confrontados com situações avassaladoras ((overwhelming- refere-se à intensidade da experiencia, que vai além das possibilidades de integrá-las), se forem incapazes de reorientação, e escolher entre lutar ou fugir, irão congelar ou colapsar. Os que forem capazes de descarregar essa energia, se recuperarão, mas, os humanos geralmente iniciam uma espiral descendente caracterizada por uma série de sintomas cada vez mais debilitantes, ao invés de se moverem pela resposta de congelamento, como os animais.

Precisamos de segurança e proteção. Precisamos do apoio de amigos e parentes para nos movermos pelo trauma.

Enxaqueca, é uma reação de estresse do sistema nervoso frequentemente relacionada a reações pós traumáticas. Depois dos ataques de enxaquecas, os pacientes podem transpirar um pouco, e deixar escapar um pouco de urina (catarse fisiológica), algumas gotas de suor também acompanham a resolução e cura do trauma. Quando é utilizado medicamento isso não ocorre e não há cura. O corpo passa dos arrepios para uma ativação crescente, com ondas de calor úmido, derretendo o “iceberg” criado pelo trauma.

O processo de cura criativa pode ser bloqueado usando-se drogas para suprimir os sintomas, enfatizando-se o controle, ou pela negação, ou invalidação de sentimentos e sensações.

As vítimas de traumas violentos podem nunca mais ser as mesmas biológicamente.

As drogas, tais como o Prozac, podem ser úteis para dar tempo para que os indivíduos traumatizados se estabilizem. Contudo, interferem na cura quando utilizados por períodos prolongados, a fim de suprimir a própria resposta equilibradora do corpo, ao estresse.

O organismo precisa do chacoalhar e tremor espontaneos ( que vemos no mundo animal), para completar o seu curso de ação biológica significativa.

A capacidade inata de auto-regulação fica perturbada, quer a resposta restauradora tenha sido suprimida por drogas, mantida congelada pelo medo, ou controlada por pura força de vontade.

Devemos ter em mente que o mundo primitivo, ainda está muito vivo em nós. Os acontecimentos que ameaçaram rotineiramente a vida das pessoas pré-históricas moldaram o nosso sistema nervoso moderno para responder com determinação, por inteiro, sempre que percebemos que a nossa sobrevivencia está ameaçada.

Ser ameaçado evoca nossos recursos mais profundos, e nos permite experienciar o nosso potencial mais pleno, como seres humanos. É assim que o nosso bem-estar emocional e físico é ampliado. Hoje, a sobrevivencia depende cada vez mais de nossa habilidade de pensar, em vez de ser capaz de responder físicamente. Não importa como vejamos a nós mesmos, literalmente somos animais humanos. Os desafios aparecem rapidamente, mas o nosso sistema nervoso mudou de modo mais lento. As pessoas que estão mais em contato com o seu ser animal, tendem a se sair melhor quanto ao trauma. Por não terem um acesso fácil aos recursos desse eu instintivo e primitivo, os humanos separam o seu corpo da sua alma. A maioria de nós não pensa ou experiencia a si mesmo como animais. Entretanto, por não viver os nossos instintos e reações naturais, também não somos plenamente humanos. Estamos no limbo, nem totalmente animais, e nem totalmente homens.

O nosso sistema nervoso e nossa psique precisam encarar desafios, e ser bem-sucedidos, para que possam permanecer saudáveis. Quando essa necessidade não é satisfeita, ou quando somos desafiados e não podemos triunfar, acabamos ficando sem vitalidade, e somos incapazes de nos engajar de modo pleno na vida.

Prestem atenção: podemos afirmar que a Guerra e a violencia afetaram a vida de quase todos os homens, mulheres e crianças que vivem neste planeta. Furacões, terremotos, inundações, incendios, e outros, afetaram pessoas que correm o risco de sofrer, ou já estão sofrendo com o trauma. Setenta e cinco por cento das pessoas que vão ao medico apresentam queixas que são chamadas de psicossomáticas, porque não consegue encontrar nenhuma explicação física para elas.

A depressão e a ansiedade tem antecedentes traumáticos, e o mesmo acontece com as doenças mentais. Os sintomas podem permanecer latentes, acumulando-se por anos ou décadas, e então durante um periodo estressante, ou como resultado de outro incidente, podem aparecer sem nenhum aviso. Voce convive com a impressão de que os medicos acreditam que voce é hipocondríaco, porque não conseguiram encontrar nenhuma causa para a sua condição.



QUEIXAS- A REALIDADE DA PESSOA TRAUMATIZADA

2ª. PARTE

As palavras não podem transmitir de modo preciso a angústia que uma pessoa traumatizada experiencia:

Tenho medo de sair da cama de manhã

Tenho medo de sair de casa

Tenho muito medo da morte, não de morrer algum dia, mas de morrer nos próximos minutes

Tenho medo da raiva

Tenho medo do sucesso, ou …do fracasso

Sinto dor no peito, e formigamento, entorpecimento nos braços e pernas todos os dias

Quase que diariamente sinto cólicas

Sinto dor a maior parte do tempo

Acho que não posso continuar

Tenho dores de cabeça

Sinto-me nervosa o tempo todo

A minha respiração é curta, o meu coração dispara, e sinto desorientação e pânico

Estou sempre frio, e tenho a boca seca

Tenho dificuldades em engolir

Não tenho energia e nem motivação…quando realize alguma coisa não sinto satisfação

Estou sobrecarregado, confuse, perdido, desamparado

Tenho explosões incontroláveis de raiva e, depressão.

Em nossa cultura há uma falta de tolerancia pela vulnerabilidade emocional que as pessoas traumatizadas experienciam. Temos que nos ajustar rapidamente logo depois de uma situação avassaladora. Dá-se pouco tempo ao trabalho de passar pelos acontecimentos emocionais. A negação é comum (não foi nada, já passou. Esqueça o que aconteceu. Se doer, esconda. Sofra sem reclamar. É hora de seguir adiante…).



QUEM É O TRAUMATIZADO?

A habilidade de responder apropriadamente diante do perigo é determinado por vários fatores:

1- O acontecimento

-Quanto ele é ameaçador?

-Quanto tempo dura?

-Com que frequencia ocorre?

Podemos dizer que a Guerra e o abuso sexual na infancia suplantam os recursos de sobrevivencia do indivíduo.



2- O contexto da vida no momento do acontecimento

-O apoio ou falta da família e amigos

-Saúde fraca (má alimentação)

-Estresse continuo

-Fadiga



3- Características físicas

-Idade e nível de desenvolvimento fisiológico e Resistencia

-Força, rapidez, forma física



4- Capacidades aprendidas

Bebes e crianças são mais vulneráveis do que o adolescente ou o adulto. Por isso, as reações traumáticas frequentemente provêm da 1a. infância.



5- O modo de experienciar a capacidade de encarar o perigo

-Sensação interna de autoconfiança. Recursos externos (um amigo, um urso, uma arma, um anjo, etc.) Recursos internos- o senso do eu vivenciado é afetado por um conjunto complexo de recursos, que incluem atitudes psicológicas e experiencia, e reações instintivas (defesa inata traduzido pelo sistema nervoso, por ex. O braço levanta repentinamente para aparar o golpe…)

Dramaticamente, o instinto assume diante do perigo.

Os efeitos posteriores traumáticos da imobilização prolongada de hospitalizações e especialmente cirurgias, com frequencia são duradouras e graves, mesmo que a pessoa reconheça que uma cirurgia era necessária, e apesar do fato de ela estar inconsciente, enquanto o cirurgião corta a carne, músculos e ossos, isso é registrado no corpo como um acontecimento que ameaça a vida. No nível cellular, o corpo percebe que sofreu um ferimento sério suficiente para colocá-lo em perigo mortal.

Intelectualmente, podemos acreditar na operação, mas num nível primário o corpo não acredita. Por isso, a cirurgia frequentemente produz uma reação pós-traumática.



CAUSAS

. desastres naturais

.exposição à violência

.acidentes, quedas e doenças graves

.perda súbita da pessoa amada

.procedimentos cirúrgicos médicos e dentários

.partos difíceis e altos níveis de estresse na gestação.

CONSEQUENCIAS

Tanto as causas quanto os sintomas do trauma são incrivelmente amplos e diversificados, são eles:

.flashbacks

.ansiedade

.falta de vitalidade

.problemas comportamentais e psicossomáticos

.ataques de pânico, insônia e depressão

.dificuldade de se abrir

.ataques de raiva violenta e não provocada

.comportamentos destrutivos repetitivos.

Agradecimentos à Peter A. Levine, autor do livro- O Despertar do Tigre- por essa belíssima obra.

Vera Occhiucci

sexta-feira, 9 de março de 2012

PROCESSO FORMATIVO

PROCESSO FORMATIVO
O milagre e o mistério da vida é que me organizo e me formo.
Experiencio o universo como um campo de excitação, um continuum de excitação, um oceano de correntes excitatórias.
Essa excitação é a experiência básica da vida corporal.
(excitação – expansão – crescimento – inibição – contracção - limitação).
PROCESSO DE CORPORIFICAÇÃO
A formação de limites.
Uma volta sobre si mesma.
Experiencia o self como separado, individualizado.
Começa a sentir poder, a forma desse self.
A excitação não para de se expandir, ela se intensifica dentro do indivíduo.
Há um sentimento de percepção, de autoconhecimento. Torna-se canal de auto-expressão. (expansão – contracção - auto-percebendo - auto-conhecendo – expressando – interagindo - novas experiências).
Á medida que o indivíduo vive a vida, os eventos mais importantes formam ele para ser outro alguém.

Fases do processo formativo:
1- pré- pessoal 2- pessoal 3- pós-pessoal.

Nas viradas da vida, três decisões:
.restringir e definir uma parte de si mesmo
.criar limites e diferenciar-se, tornando-se pessoa (humano).
.Torna-se sem limites, ilimitado.

Toda a vida parece capaz de formar a si mesmo. Essa auto-formação é imprevisível e previsível; involuntária e voluntária; impessoal e pessoal. Todos nós formamos corpos; não obstante, cada um de nós forma um corpo singular. Todos nós abrimos mão da nossa forma, embora cada um de nós o faça de um modo singular. Todos nós morremos, embora cada um de nós forme a sua própria morte.

ATITUDE
Uma atitude é um conjunto corporal. Atitudes têm componentes musculares, emocionais e mentais.
As atitudes formam o pano de fundo do carácter. Se eu tiver atitudes rígidas, elas não definirão apenas o meu sistema rígido de crenças; definirão também o sistema rígido de sentimentos, e o sistema rígido de acções pertencentes ao meu rígido conjunto corporal.
Se a minha capacidade de auto-expressão estiver severamente limitada, é porque desenvolvi atitudes que restringem a expansão da minha excitação. Travo os músculos nas minhas mãos, braços, boca, peito, barriga, pernas. Isto me faz precavido, conservador e desconfiado. Procuro tradições. Acredito que se apoiar no conhecido é mais seguro e melhor do que fazer as coisas do meu próprio jeito.
Moldamos a nós mesmos organizando atitudes.

Há dois tipos distintos de atitudes:
1- voltada para a satisfação 2- voltada para a frustração.
Procuram atender as necessidades instintivas e sociais.

1- ATITUDES DE SATISFAÇÃO - forma corporal de ir adiante, aprumada, equilibrada, flexível. Há uma simetria revelada como harmonia entre as metades esquerda e direita do cérebro (praticidade e intuição) e, mais frequentemente, entre os lados esquerdo e direito do corpo. Os olhos são coordenados. As pernas, braços e torso são integrados. Os pensamentos e sentimentos são consistentes com as acções da pessoa. Essa harmonia, essa integração são percebidas mentalmente como interesse, autoconfiança, imaginação e disposição de conviver com o desconhecido; no plano emocional, como sentimento de excitação, antecipação, amor, alegria. É um visionário. Pessoa que se compromete e são solidárias com uma tarefa. Pessoas que amam fazer aquilo que estão fazendo. Pessoas que se sentem a serviço de si e dos outros.
Quando há interferência nessa nossa auto-organização vai resultar numa falência dessas atitudes voltadas para a satisfação. Tornamo-nos assimétricos e há uma perda da graça e da conexão.

2- ATITUDES DE FRUSTRAÇÃO - enredados num padrão de frustração, registramos pensamentos de insegurança, incompetência e confusão, sentimentos de ressentimento, hostilidade, inutilidade e desespero. Há um encolhimento geral do nosso self. Atitudes de frustração conduzem a uma flexibilidade cada vez menor para continuar crescendo, uma habilidade corporal cada vez menor para continuar reformando o self que se é. Recuamos para atitudes testadas, velhos padrões da infância (teimosia e dependência). Tornamo-nos repetitivos, tediosos e entediados.
As atitudes formativas buscam a sua satisfação na expressão do novo. As atitudes de frustração anseiam por objectivos compensatórios. É fácil ver que o orgulho é uma elevação forçada, um endurecimento da parte superior do torso, do pescoço e do maxilar para compensar o esvaziamento e a impotência que aí estão. Em contraste, o verdadeiro orgulho de viver uma vida formativa provém de se estar preenchido pela própria excitação. A excitação se organiza como sentimentos de auto-estima e expressões de elegância e mobilidade.
Se uma pessoa estiver paralisada numa excitação sexual frustrada, o truque é levá-la, corporalmente, a re-experienciar o estado de susto que deu origem ao seu conflito. O padrão de susto é a atitude essencial que precisa ser focada.
Começo a desfazer as minhas atitudes de frustração experienciando e percebendo-as como meu corpo. Uma contracção muscular crónica não é algo que outra pessoa está fazendo comigo. É algo que eu estou fazendo comigo mesmo. Ao chegar a reconhecer como me porto, começo a entrar em contacto com os sentimentos, pensamentos e lembranças que se combinam com a minha estrutura. Começo a experienciar a história pessoal das amarras com as quais me amarrei, e assim, eu me conecto com o corpo vivo que sou.
Atitudes de desamparo e desespero se manifestam habitualmente no peito e nos ombros, já que é a partir dessa área que os sentimentos de confiança, expansão, riso e amor buscam expressão. Restringimos esses sentimentos colapsando ou rigidificando o peito, restringindo a respiração, o choro, o grito e as sensações de suavidade e vulnerabilidade. Ao encorajar a nossa respiração e auto-expansão, tanto física como mentalmente, começamos a reformar essas atitudes.
A frustração contínua conduz a sentimentos e pensamentos cada vez mais negativos, cada vez mais raivosos, restritivos e a formas depressivas de manter o próprio mundo. Ao aprender a soltar uma atitude que segurei por longo tempo, posso sentir um certo desamparo. Posso sentir dor e desconforto mental. Posso experienciar estranheza. Mas, também sinto o fluxo excitatório reorganizando a mim mesmo. A desorganização de atitudes é uma parte natural do processo formativo. O processo para dissolver atitudes e reformá-las é um processo de aprendizagem por experienciação.

quarta-feira, 7 de março de 2012

GROUNDING E CORPORALIDADE



GROUNDING E CORPORALIDADE


            Como esta pessoa está enraizada?
            Qual é a sua relação com a terra?
            Qual é a qualidade dessa conexão?
            Quanta energia essa pessoa apresenta estando em pé?
            Ela está inerte ou vibrante?
            Porque não quer enraizar-se mais?

            O enraizamento cresce a partir do nascer, cresceu por se vir ao mundo com um corpo. Plantamos a nós mesmos no mundo. O nosso funcionamento natural gera raízes de um lado e folhas e galhos  (relações sociais) do outro.
            Qualquer um ao observar uma criança andando, pode perceber se ela é segura ou insegura. Exactamente como a árvore interage com a terra, enraizando-se por meio de suas raízes, a criança interage com seus pais e envia para baixo suas próprias raízes chamadas de pernas. Se o solo é pobre ou o clima áspero, o enraizamento pode ser pobre ou muito duro (rijo).
            Os vendavais desenraízam as árvores e as tempestades emocionais desenraízam os homens e as mulheres. A capacidade de conexão com a nossa base biológica permite a circulação da vitalidade, fazendo surgir o amor e o crescimento. A separação da nossa base biológica resulta em medo, raiva, angústia e até morte.
            Grounding estabelece a circulação do nosso fluxo vital, da nossa corrente sanguínea. Organiza um ritmo de fluxo e refluxo e uma ressonância vibrante com o nosso ambiente.
            Embora os vendavais emocionais possam nos desenraizar, enfraquecendo-nos o corpo e a personalidade, eles podem igualmente servir para nos aprofundar, nos tornar mais vívidos, mais intensamente nós mesmos. Ser enraizado é estabelecer uma relação com a terra. Ser corporificado é criar um corpo vivo ( não apenas estar com o corpo, mas criar as suas relações).
            Para nascer é preciso ter um corpo. Para morrer é preciso abrir mão desse corpo. Certas pessoas, por causa das condições muito adversas do começo de suas vidas, foram capazes de se formar apenas parcialmente. Nos primeiros anos, era doloroso demais para elas habitar plenamente a sua carne; então decidiram não se corporificar plenamente. Elas se formaram de um modo diminuído, e embora possam ser adultas agora, as reconhecemos como sendo bebés.
            Aqueles que temem os seus impulsos, se trancam no mundo das ideias. Formamos um self corporal a partir dos nossos prazeres e satisfações, das nossas dores e mágoas.
            Dizer não é fazer uma afirmação de protesto e auto-afirmação, que intensifica os próprios processos excitatórios e vivifica o sentido de “eu”. Se nunca digo não, nunca me afirmarei. Se não exerço a habilidade de formar e manter limites, serei sempre uma vítima. Muita gente tem problemas em dizer não e fazer valer a sua posição. Ou então diz não tão rigidamente que depois é incapaz de permitir que o sim, movimento pulsátil de reconexão, aconteça.
            Em muitos casos, uma contracção é a expressão mais forte de auto-afirmação que uma criança pode fazer. Uma criança diz não para se proteger e afirmar. E se isto não for respeitado, sabe o que acontece? O que teremos é um não corpo que não consegue suportar os processos excitatórios que formam a independência. E portanto, nunca será ela mesma, a menos que se disponha a cortar com as origens (mãe, cultura, grupo de colegas). Poderá até ter que formar uma contracção.
 A contracção, o não que inibe a expansão, ao mesmo tempo a afirma. Mas, pode se tornar tão firmemente enraizada que ficamos  retesadas e não nos abrimos  nunca, e será preciso que alguém nos ajude a confiar de novo, a  soltar, a descontrair, a dizer não de uma maneira diferente. Uma contracção não precisa de ser uma cãibra muscular crónica. Pode ser um conjunto temporário de decisões pessoais.
            O processo formativo requer que estabeleçamos limites e formemos a nós mesmos e, depois, suavizemos esses limites e formemos ou reformemos a nós mesmos.


VIBRAÇÃO, PULSAÇÃO E CORRENTES


            A nossa individualidade é o nosso ritmo pessoal de pulsar. Essas pulsações determinam o modo como nos percebemos e ao nosso mundo, como criamos nossos valores, nossas necessidades e escolhas. Uma criatura com tecidos sem muita motilidade e vibração se sentirá mais fraca do que o mundo e esperará, portanto, que o mundo ora a ataque e ora a proteja. Uma pessoa que demonstra uma grande quantidade de vibrações se sentirá ora desafiando o mundo, ora em harmonia com ele, mas nunca se sentirá submissa. Identidade rígida não é individualidade. Para afirmar essa individualidade, temos de abrir mão de procurar papéis e atitudes estáticas, e em vez disso buscar  conexão com nossos próprios ritmos pulsáteis. Ser um indivíduo é antes de tudo, imprimir no mundo a variedade de nossas expressões do que meramente imitar a expressão de outra pessoa. Pulsações e correntes são descontínuas, mas o processo é sempre contínuo. Viver essa descontinuidade pulsatória destrói estereótipos, exige que abramos mão do velho e criemos novos espaços, novas formas e novas conexões. Negar essa descontinuidade é uma tentativa de estabelecer segurança, posses permanentes e uma estrutura social rígida. Se há interferência nas minhas correntes de energia, na minha liberdade, reajo violentamente. Utilizo de violência comigo, com você e com o meu ambiente. Contorço-me ou me amorteço numa espécie de sono, além de restringir os meus contactos sociais. Arranjo satisfações compensatórias, preencho os ideais de outras pessoas e busco objectivos sociais.