terça-feira, 4 de maio de 2010

ANJOS

Todos nós já ouvimos falar em Anjos. Desde a mais tenra idade que nos habituamos a esse termo, correspondente a seres que preenchem o imaginário da nossa infância e, porque não dizê-lo, nos acompanham pela vida fora. A vida pode levar muitos de nós a deixar de acreditar na existência desses seres, ou a colocá-los num plano mais racional ao alcance da nossa inteligência, explicando a sua existência por processos originados pela nossa mente. No entanto...
Toda a tradição judaico-cristã sobre a qual entronca a nossa civilização nos fala de Anjos. A Bíblia está repleta de referências a esses seres. O nascimento de Jesus terá sido anunciado a Maria por um Anjo (neste caso um Arcanjo). E foi também um Anjo que sossegou José sobre a gravidez de Maria.
Tanto na tradição judaica como na cristã, os Anjos são seres pertencentes a uma hierarquia perfeitamente organizada de seres celestiais, cada um com suas funções específicas. Para a Cabala judaica, a maior parte desses seres são chamados “Elohim”, e são poderes criadores que se estendem em tríades desde o alto até ao homem, décimo ser dessa hierarquia.
Na tradição cristã, esses seres também estão organizados em tríades, sendo a 1ª tríada aquela que estará mais próxima de Deus. Assim temos nesta primeira tríade os Serafins, os Querubins e os Tronos; na 2ª temos as Virtudes, as Dominações e os Principados; na 3ª tríada encontramos os Arqueus, os Arcanjos e os Anjos.
Esta classificação, independentemente dos nomes que atribuamos às várias classes desses seres, concorda com o conhecimento esotérico a este respeito. Os Anjos são os seres que mais próximo se encontram do homem e convivem com o homem, embora num plano diferente da existência.
Num livro a propósito da evolução do homem, foi escrito o seguinte há algum tempo atrás:
“Na ordenação do Universo, existe uma razão para todas as coisas, porque nada foi feito e organizado ao acaso". Por este motivo, deve haver também uma razão para as Hostes Celestiais, a começar nos Elohim, estarem organizadas numa hierarquia perfeitamente estabelecida. Elohim parece ser um nome genérico para muitos destes seres, pois tanto os Arqueus como os Tronos, por exemplo, são Elohim. Todos eles são seres criadores, pois todos têm a faculdade de criar, só que cada um pode criar até determinado limite específico. Vimos isto quando os Arqueus criaram os Arcanjos para estes continuarem o processo de criação. Se quisermos organizar esta hierarquia de Poderes (na Bíblia chamam-se Poderes), ou as faculdades de Deus em acção, teremos o seguinte:

1ª Tríade
Serafins (Amor)
Querubins (Harmonia)
Tronos (Vontade)

Estes estão acima de qualquer outro Poder. Agem em todo o Universo e fazem parte da Esfera Divina. Estão acima do espaço e do tempo, mas a sua acção manifesta-se no espaço-tempo.

2ª Tríade
Virtudes (Forma)
Dominações (Movimento)
Principados (Sabedoria)

Estes são os Poderes ordenadores e equilibrantes, intermediários entre os Poderes Superiores e os Inferiores. Eles ordenam e equilibram todo o sistema planetário.

3ª Tríade
Arqueus (Personalidade)
Arcanjos (Fogo)
Anjos (Vida)

Estes Poderes são os que estão acima do Homem e agem directamente com ele. Como vimos anteriormente, os Arqueus são os iniciadores, os Espíritos do começo, os que fizeram saltar a primeira chispa do “Fiat Lux”. Os Arcanjos são a própria Luz, o Fogo criador, os que descem à voragem da matéria e amam o Homem, ao qual deram o sopro e a vida. Os Anjos são os seres que acompanham o Homem na sua vida terrestre, que sofrem e se alegram com ele, que o guiam através das múltiplas encarnações da sua viagem. Os Anjos não são o Eu Superior do Homem, são seres independentes do homem mas ligados a ele individualmente. Uma das suas missões é tentar despertar em cada homem o seu Eu Superior.
Os Poderes destas três Tríades vêem depois a concentrar-se na individualidade que é representada por Lúcifer, ele próprio também um Arcanjo, que concedeu ao Homem e por amor deste, a Liberdade.
Podemos comparar esta organização de Poderes com a Árvore Sefirótica da Cabala, onde o raio divino de En Sof percorre todas as esferas (Sefiras) de emanação até se concentrar em Malkuth, que é o mundo da matéria criada. Os cabalistas afirmam que existem quatro reinos presentes numa Árvore Sefirótica. Assim, comparando com as Tríades acima, teríamos o seguinte:
1º Reino – AZILUT – englobando Kether, Hokhmah e Binah. Este é o reino da emanação e seria correspondente à 1ª Tríade de Serafins, Querubins e Tronos.
2º Reino – BERIAH - contendo as Sefiras de Hesed, Gevurah e Tiferet. É o reino da criação, correspondente à 2ª Tríade de Principados, Dominações e Virtudes.
3º Reino – YEZIRAH – inclui Nezah, Hod e Yesod. É o reino da formação, correspondente à 3ª Tríade e onde agem os Arqueus, Arcanjos e Anjos.
4º Reino – ASIYYAH – é o reino da feitura, da coisa feita. É a matéria em todo o esplendor de Malkuth. É o Homem criado, feito espírito e matéria.
Temos aqui, visto de uma maneira ou de outra, o número 10, que contém em si todos os atributos da Divindade que é 1, pois o número 10 é igual a 1 (1+0=1). O Homem é o 10, o resultado de todo o processo da Criação, mas também é o 1, porque todos os atributos da Divindade estão nele – ele é o reflexo da face de Deus, de onde proveio e para onde volta, na sua interminável ronda ao encontro da sua própria natureza.
Neste texto procurei dar uma ideia de como agem esses poderes criadores, nomeadamente os Arcanjos e os Anjos, que são os nomes a que estamos mais habituados a ouvir. Esclareço que os Anjos não são, como algumas correntes afirmam, o Eu Superior do homem – os Anjos são entidades, são seres, independentes do homem, mas que têm por missão específica acompanhar o homem no seu caminho de evolução através das numerosas vidas em que ele encarna. O Eu Superior é uma criação do homem e faz parte dele, pois reflecte a verdadeira natureza do ser humano. Esse Eu superior tende a tornar-se luminoso à medida a que o ser humano vai evoluindo e se tornando mais perfeito. Por este motivo, pode por vezes confundir-se com o Anjo.
A propósito do Anjo da Guarda, também se diz que o homem vai criando o seu próprio Anjo da Guarda. Embora possa parecer uma contradição com o que afirmo acima, isto é verdade. O Anjo que acompanha o homem, a quem podemos chamar Anjo da Guarda, não pode, apesar de se tratar de um ser celestial, interferir no livre arbítrio que foi concedido ao homem. Quer dizer, ele procura influenciar o homem no bom caminho, mas não pode fazer nada para evitar que o homem faça o que muito bem quiser. Assim, sempre que nos elevamos no nosso processo evolutivo, o nosso Eu Superior vai adquirindo mais luz e nós vamos ficando mais fortes pois, quanto mais luz tivermos menos sujeitos ficamos às tentações que nos puxam para baixo. Como o Anjo da Guarda nos acompanha neste crescimento, ele também, naturalmente, estará mais forte.
Os Anjos, como todos os outros seres das Hostes Celestiais que descrevi acima, são seres andróginos, não são nem femininos nem masculinos. A separação dos sexos só aparece no homem. Por isso eles são representados vulgarmente como seres que tanto podem ser femininos como masculinos. Por outro lado, eles também são representados como tendo asas. Isto pode significar duas coisas: tratando-se de seres celestes a imaginação do homem colocou-lhes asas para poderem voar ou, as asas são o reflexo luminoso do seu campo áurico. Tratando-se de seres formados de energia pura, é natural que a sua aura se expanda em luminosidade e possa ter feito parecer ao homem que tivessem asas.
Independentemente das explicações que aqui foram dadas, penso que cada um idealiza o seu Anjo, esse ser celeste que o acompanha em todos os momentos da vida, de uma forma muito particular. Mas seja qual for a forma como o idealiza, sempre que eleva o pensamento para o seu Anjo da Guarda, está a elevar-se a si próprio. Para além dos pedidos que façamos ao nosso Anjo da Guarda, pois este nada nos recusa (mas não esquecer que ele não pode interferir no nosso livre arbítrio), é importante de vez em quando elevarmos o nosso pensamento para ele, em agradecimento pela sua partilha dos nossos desgostos e das nossas alegrias, por velar por nós, permanentemente.

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